O Papa: avós e idosos, artífices da revolução da ternura que liberta o mundo da guerra

Publicado em: 10/05/2022 16:20


Vatican News

Em sua mensagem para o II Dia Mundial dos Avós e Idosos, em 24 de julho, Francisco os exorta “a ser mestres de um modo de viver pacífico e atento aos mais frágeis”, guardando o mundo e olhando a velhice como um tempo de oração para converter os corações. Convida as paróquias e as comunidades a realizarem uma obra de misericórdia visitando os idosos sozinhos.

A mensagem do Pontífice começa com o versículo 15 do Salmo 92 que diz: «Até na velhice continuarão a dar frutos». Esta “é uma boa notícia, um verdadeiro «evangelho» que podemos, por ocasião do II Dia Mundial dos Avós e Idosos, anunciar ao mundo”, afirma o Papa no texto, ressaltando que esta frase vai contracorrente ao que “o mundo pensa desta idade da vida” e “ao comportamento resignado de alguns idosos” que caminham “com pouca esperança e sem nada mais esperar do futuro”.

Segundo Francisco, “muitas pessoas têm medo da velhice. Consideram-na uma espécie de doença, com a qual é melhor evitar qualquer tipo de contato. É a «cultura do descarte»: aquela mentalidade que, enquanto nos faz sentir diversos dos mais frágeis e alheios à sua fragilidade, permite-nos imaginar caminhos separados entre «nós» e «eles»”.

O Papa ressalta que “a velhice constitui uma estação que não é fácil de entender”, mesmo para aqueles que já a vivem. Segundo o Pontífice, “as sociedades mais desenvolvidas gastam muito para esta idade da vida, mas não ajudam a interpretá-la: proporcionam planos de assistência, mas não projetos de existência”. A aposentadoria e os filhos “autônomos fazem esmorecer os motivos pelos quais gastamos muitas das nossas energias. A consciência de que as forças declinam ou o aparecimento de uma doença podem pôr em crise as nossas certezas. O mundo – com os seus ritmos acelerados, que sentimos dificuldade em acompanhar – parece não nos deixar alternativa, levando-nos a interiorizar a ideia do descarte”. Confiando no Senhor, “descobriremos que envelhecer não é apenas a deterioração natural do corpo ou a passagem inevitável do tempo, mas também o dom de uma vida longa”.

“Envelhecer não é uma condenação, mas uma bênção!” “Por isso, devemos vigiar sobre nós mesmos e aprender a viver uma velhice ativa, inclusive do ponto de vista espiritual, cultivando a nossa vida interior através da leitura assídua da Palavra de Deus, da oração diária, do recurso habitual aos Sacramentos e da participação na Liturgia.” Francisco convida também a cultivar “as relações com os outros: primeiramente, com a família, os filhos, os netos, a quem havemos de oferecer o nosso afeto cheio de solicitude; bem como as pessoas pobres e atribuladas, das quais nos façamos próximo com a ajuda concreta e a oração. Tudo isto ajudará a não nos sentirmos meros espectadores no teatro do mundo, não nos limitarmos a olhar da sacada, a ficar à janela. Ao contrário, apurando os nossos sentidos para reconhecerem a presença do Senhor, seremos como uma «oliveira verdejante na casa de Deus», poderemos ser uma bênção para quem vive junto de nós”.

Uma avó com sua neta no confim entre Ucrânia e Polônia

“A velhice não é um tempo inútil, no qual a pessoa deva pôr-se de lado recolhendo os remos para dentro do barco, mas uma estação para continuar dando fruto: há uma nova missão, que nos espera, convidando-nos a voltar os olhos para o futuro. «A nossa sensibilidade especial de idosos, da idade anciã às atenções, pensamentos e afetos que nos tornam humanos deve voltar a ser uma vocação para muitos. E será uma escolha de amor dos idosos para com as novas gerações».  É a nossa contribuição para a revolução da ternura, uma revolução espiritual e desarmada da qual os convido, queridos avós e idosos, a serem protagonistas”, ressalta o Papa.

A seguir, Francisco recorda que “o mundo vive um período de dura provação, marcado primeiro pela tempestade inesperada e furiosa da pandemia, depois por uma guerra que fere a paz e o desenvolvimento à escala mundial”.

“Não é por acaso que a guerra tenha voltado à Europa no momento em que está desaparecendo a geração que a viveu no século passado. E estas grandes crises correm o risco de nos tornar insensíveis ao fato de que existem outras «epidemias» e outras formas generalizadas de violência que ameaçam a família humana e a nossa Casa comum.”

“Perante tudo isto, temos necessidade de uma mudança profunda, duma conversão, que desmilitarize os corações, permitindo a cada um reconhecer no outro um irmão. E nós, avós e idosos, temos uma grande responsabilidade: ensinar às mulheres e aos homens do nosso tempo a contemplar os outros com o mesmo olhar compreensivo e terno que temos para com os nossos netos. Aprimoramos a nossa humanidade ao cuidar do próximo e, hoje, podemos ser mestres dum modo de viver pacífico e atento aos mais frágeis. “

Segundo o Papa, um dos frutos que os idosos são “chamados a produzir é o de guardar o mundo”. «Todos nós sentamos nos joelhos dos avós, que nos tiveram ao colo»; mas hoje é o momento de colocar sobre os nossos joelhos – com a ajuda concreta ou mesmo só com a oração –, junto com os nossos netos, muitos outros assustados que ainda não conhecemos e que talvez fujam da guerra ou sofram por causa dela. Guardemos no nosso coração – como fazia São José, pai terno e solícito – os pequeninos da Ucrânia, do Afeganistão, do Sudão do Sul…”.

Francisco recorda que “não nos salvamos sozinhos, a felicidade é um pão que se come juntos”. Até mesmo o deixar-se cuidar, “muitas vezes por pessoas que provêm de outros países, é uma maneira de dizer que é não só possível, mas também necessário vivermos juntos”. Segundo o Papa, os avós e idosos são “chamados a ser artífices da revolução da ternura”, e os convidou “a usar cada vez mais e melhor o instrumento mais precioso e apropriado” que eles têm para a sua idade: “a oração”. “A nossa imploração confiante pode fazer muito: é capaz de acompanhar o grito de dor de quem sofre e pode contribuir para mudar os corações. Podemos ser «o “grupo coral” permanente dum grande santuário espiritual, onde a oração de súplica e o canto de louvor sustentam a comunidade que trabalha e luta no campo da vida»”, sublinhou.

O Papa pede para que o Dia Mundial dos Avós e Idosos seja anunciado nas paróquias e comunidades, que seja um dia para visitar os idosos abandonados em casa ou nos asilos. “Que ninguém viva este dia na solidão. Ter alguém para cuidar pode mudar a orientação dos dias de quem já não espera nada de bom do futuro; e dum primeiro encontro pode nascer uma nova amizade. A visita aos idosos abandonados é uma obra de misericórdia do nosso tempo!” “Peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Ternura, que faça de todos nós dignos artífices da revolução da ternura para juntos, libertarmos o mundo da sombra da solidão e do demônio da guerra”, conclui.

Fonte:

https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2022-05/papa-francisco-mensagem-dia-mundial-avos-idosos-velhice-ternura.html <acesso em 10/05/2022>

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